30 abril 2014

Sempre Babilônia



Antigos senhores da Babilônia
Em uma época sem imprensa
Fizeram sem licitação
(algo que hoje se dispensa)
uma torre que de tão imensa
alcançaria o firmamento.

Assim, em seu pensamento,
Deus seria destronado

Mas como o Senhor é malaco
Pôs uma língua na boca do povo
E aí formou-se o barraco
Rolou tumulto, ninguém se entendia
Todo mundo dispersou
Foi gente pra todo lado

Por fim, a torre ruía

Hoje senhores do mundo
Constroem seu paraíso de riqueza
Achando que a plebe nunca pensa.
Agora eles têm imprensa
Que beleza!
Tem grossos livros psicografados
e atribuem ao Senhor a autoria

Pois não sabem que Deus malaco
Odeia essa putaria?

Vamos ver a língua do povo
Falar uma só oração
Tornar vísivel a mão do mercado
A cara e nome de seus donos
a sua real intenção.
As praças de guerra na esquina
Não contra a cocaína
Mas contra a corrupção
Irão matar algumas flores
Mas o povo unido pensa
O crime não compensa
Não seremos escravizados

Não adianta a imprensa
Nem burguesia medrosa
Explodirá por todos os lados
No sofá, na rua, na escola
Onde o governo dá esmola
Onde ninguém dá bola
Na favela, no lixão
Destronaremos esses senhores

E quando acabar a revolução
Mais uma vez, por Deus,
Cairão por terra as torres.

E as praças voltarão a ter flores



27 abril 2014

O Herói




Esperava que o verbo o assaltasse
Mas se encontrava distraído sempre
A ponto de cruzar precipícios sem cuidado

Foi então que a queda o deixou mudo
E ao chocar-se com o tapete de veludo
Percebera que o verso o esnobava

Travestido então de falsa poesia
Decidiu emendar versos alheios
E os mandou todos à gazeta noutro dia

Aplaudido de pé na academia
Fez questão de fundar a própria escola
Seguiram-no alguns poucos trovadores

Em seu discurso traçou mil teorias
Mas depois de esvaziar as fantasias
Mudou a face para o tom vermelho

E salpicou de merda todo o júri
Palavreava qual sirene louca
E ninguém entendeu o que dizia:

“Eu sou um louco que batera co’a cabeça
Nenhuma linha do que escrevo há que mereça
Ser considerada como obra de poesia”

E o júri, pensando no teatro que se armava,
Inteligentemente arrependido,
Mesmo cagado até o pescoço o aplaudia.

(poema constante em A Dieta da Felicidade)

23 abril 2014

Cosmologia



Tenho a impressão de que entendi mal o que se passa com o mundo

O tempo envolve as coisas, que se movem e se distanciam
Como fragmentos de uma grande explosão ancestral.
Tudo se afasta da origem com velocidade
Numa dança frenética e violenta
Onde a realidade se rearranja
Sob a lógica complexa de minúsculas grandezas discretas.
O amor, memória e busca,
Recupera a densidade e diminui, com a gravidade,
A força do tempo sobre as coisas.

Um buraco negro era uma ode e uma reconstrução.

Assim pensava eu, quando jovem,
Sobre o amor e o universo.
Mas passei a ver mais beleza
Na origem do espaço
E a temer menos a fragmentação.
Superestimei as singularidades
Hoje quero topologias multidimensionais
Quasares e buracos brancos

Roupa que dá sentido ao tempo
É a distância.

E eis que o amor mudou meu Cosmos novamente.

20 abril 2014

O caminho no meio



Havia um poema
No meio
Do caminho

Alguém tacou pedra

No meio
Do caminho
Havia um poeta

Sempre há mais caminho

Meios
Poema, poeta e pedra
Desintegram

Há só o caminho no meio do nada

No meio
Do nada 
Há o caminho

16 abril 2014

Por um Rio Capital da Poesia



Não sei se a poesia vai ganhar o mundo
Os noticiários não concordam com o nosso desejo
Vontade, palavra e sangue desperdiçados em besteira
Muitos dormem ainda o sono zumbi do status quo

Mas a reunião dos poetas vem acontecendo
Eles estão armados com versos explosivos e pólen
Vão tomar de assalto esse tal Rio de Janeiro
Transformá-lo, da poesia, em Capital

Lá vem eles, de peito aberto, sem trincheiras
Invadindo favelas, descendo ladeiras
Na beira da praia, no subúrbio, na Lapa

Seus versos são carícias, confissões e tapas
Polemizam, polinizam, iluminam a dura estrada
Marchem sobre as cidades poetas, foda-se o mundo

A poesia, nossa guerra, nos ganhou. A sorte está lançada.

13 abril 2014

Oração



Onde houver tristeza
Que eu leve a alegria 
Onde a alegria for tola
Que eu leve a questão 
Onde a fé não justifique 
Que eu leve o bom senso
Onde houver preconceito 
Haja reflexão 
Onde houver injustiça 
Que eu leve coragem
Onde houver desespero 
Que eu leve alegria
Onde houver alegria
Que eu leve alegria
Onde houver festa
Que haja paz
Onde houver falta
Que eu leve esperança
Onde houver a morte
Que eu leve o amor
Onde houver poesia
Que eu leve poesia 
Que a poesia aja leve
Onde quer que eu vá

09 abril 2014

Kamikazes



Kamikazes
Não vivem de quases
Nós, os de acasos,
Somos quasares
Ambos explodem
Em diferentes lugares

06 abril 2014

Tolos são os homens



Uma mulher inteligente 
É perigosa 
Porque sabe 
Que não há nada mais perigoso
Do que saber
Que não há nada mais gostoso 
Que uma mulher inteligente

02 abril 2014

Doce e discreta devassa



Corpo de ninfa 
Faz amor como ninja
Na rua?
Cara de santa 

Dissimulação 
E surpresa
Põe a nocaute
Falsas expectativas 

E a exibida sem fôlego 
Não provou mais que ela
Doce e discreta devassa 

Algumas mulheres 
Sabem do amar como samurais
Sabem arte marcial

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